O filósofo Peter Kropotkine, um dos teóricos do anarquismo, deixou uma descrição vívida da maneira como a servidão funcionava durante o reinado do czar Nicolau I, que governou a Rússia de 1825 a 1855.
Lembrava-se de ouvir, na sua infância histórias de homens e mulheres que eram separados à força das suas famílias, levados das suas aldeias e vendidos, perdido ao jogo ou trocados por cães de caça e transportados para algum lugar remoto da Rússia (...)
de crianças que eram arrancadas aos pais e vendidas a amos cruéis ou dissolutos;
de serem chicoteados nos estábulos, um acontecimento quase diário e que se caracterizava por uma crueldade inaudita;
de uma rapariga que achou que a sua única salvação era afogar-se;
de um homem cujos cabelos tinham embranquecido ao serviço do seu senhor e que, por fim, se enforcou debaixo da janela deste;
e de revoltas de servos que foram reprimidas pelos generais de Nicolau I, chicoteando até à morte um de cada dez ou de cada cinco homens escolhidos ao acaso e destruindo a aldeia (...)
Quanto à pobreza que vi, durante as nossas viagens, em certas aldeias, especialmente naquelas que pertenciam à família imperial, não há palavras que possam descrever aos leitores a miséria que não tenham visto.
in «Porque Falham as Nações - Capitulo 8 - No nosso quintal, não: Barreiras ao desenvolvimento», Temas & Debates, Circulo de Leitores
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