terça-feira, 9 de março de 2010

O Poder da Formiga

Nos últimos 30 anos, à medida que os nossos brilhantes líderes licenciados nas mais famosas e reputadas Universidades Mundiais iam congeminando não menos brilhantes estratégias para acabar com os ciclos económicos, (o que, fazendo tábua rasa dos ensinamentos e sabedoria de Kondratieff, supostamente conduziria o mundo para um crescimento imparável & ilimitado, como se de repente estes novos iluminados tivessem descoberto o caminho do Eldorado, quiçá a própria Atlântida) houve um sector da sociedade capitalista mundial, que foi totalmente ignorado. Este sector manteve-se à parte, não porque o seu contributo não fosse real e efectivo, não porque o peso desse contributo não fosse inclusivamente muito significativo nas contas orçamentais de quase todos os estados ocidentais, mas tão só porque os seus membros não são unidos nem se fazem representar normalmente a uma só voz. Falo-vos dos milhares de nano, micro, mini & pequenos empresários e empresas, que dão emprego a (imagine-se…) + de 90% da população activa no ocidente.



Estas formigas, passo a passo e sob o jugo de um fisco cego e impiedoso, contra todas as expectativas, vão sobrevivendo e persistem em aparecer nas estatísticas, embora sem um rosto ou um nome. São centenas de milhões de pessoas, por todo o ocidente. A excessiva concentração da riqueza nas mãos de 1% nos EUA e cerca de 5% na Europa, deserdou os restantes de poderem sequer vislumbrar um futuro que se possa assemelhar, comparativamente, aos níveis de qualidade de vida das 2 gerações anteriores. A destruição da classe média, que serviu de suporte ao crescimento da economia ocidental na segunda metade do século 20, fez com que a economia de base capitalista liberal, entrasse por um caminho autofágico, que reduziu gradualmente o poder de compra de uma larga base de cidadãos, confrontando-os hoje com a mais vil & indesmentível miséria. (Vejam menos televisão e informem-se melhor sobre quem vive na casa ao lado…). Em paralelo, os senhores do mundo, vulgo elite política e grandes multinacionais (reparem que excluo as pequenas e médias, porque também estas acabarão por sofrer consequências imprevisíveis nos próximos anos), continuam a usufruir de todo o tipo de benesses e mordomias, só que agora estas lhes advêm directamente da miséria e do sofrimento alheios.



A grande força da formiga, é estar habituada ao sofrimento, ao sacrifício, e isso fá-la procurar sempre novas forma de sobrevivência, formas essas que não passem por continuar a alimentar as classes predadoras, nomeadamente o fisco. Eis senão que as formigas descobriram que se parassem de investir o seu dinheiro e o fossem acumulando, todo o sistema ruiria pela base. E, ainda que também elas fossem afectadas, teriam muito menos a perder que as restantes classes que se servem delas, para as explorar. É isso que está a acontecer, neste momento. A taxa de poupança está a subir vertiginosamente, e creio mesmo que dentro de 2/3 anos – tal como Portugal é hoje um dos países da Europa com menos acidentes rodoviários per capita (pois é, não vem nos telejornais, não é…) - também muito em breve será o país com a mais alta taxa de poupança. E sabem porquê? Porque nos está nos genes. Produzir e poupar, lembram-se?



As formigas começam a redescobrir as vantagens da reutilização das coisas, em vez de simplesmente as deitarem para o lixo, comprando coisas (embora novas, cada vez mais falsificadas, por processos de fabrico capazes de iludir perfeitamente os sistemas de qualidade que nos andaram a vender durante anos). Através da reparação de máquinas e outros objectos, apostando na preservação dos seus níveis de funcionamento com a necessária e adequada manutenção. A reciclagem de materiais em vez do crescente e destrutivo consumo de matérias primas. As formigas estão a aprender a partilhar a informação porque perceberam que é nesta partilha que reside em ultima análise a sua própria sobrevivência. Esta crise económica tem a virtude de conseguir aquilo que nenhuma campanha de marketing ou líder político conseguiu até hoje: fazer com que as pessoas comecem a olhar umas para as outras e não se vejam só como factores de produção, mas como seres humanos, que somos.