sexta-feira, 28 de maio de 2010

Mudar.

Esta é sem duvida uma questão tão interessante quanto abrangente. O actual modelo económico não está esgotado ao contrário do que possamos pensar. Repare-se que a China, India e em especial o Brasil continuam a crescer. Bem sabemos que no caso da China o crescimento actual é certa forma "empolado" e irreal, mas o verdadeiro colapso é o Euro-Americano, os EUA elevaram a "ganância" á sua maior potencia, mas reduziram de tal forma a base de beneficiários que hoje não passam de uma plutonomia apoiada por uma pressuposta democracia, parece-me a mim que tiveram a sorte de ter o Homem certo no momento certo. Audace Fortuna Juvat, ou talvez não.. certo é que Obama, tudo tem feito para tentar protelar a inevitável queda do império americano.




Por outro lado temos a nossa europa e o nosso pressuposto estado social, superestrutura do idealismo marxista e que foi alimentando o capitalismo á medida que este foi dispensando mão de obra, sem no entanto prescindir dos consumidores. É neste paradoxo que nos estamos a afundar, deixámos de produzir mas continuamos a consumir, resultado - "the never ending story" -o crescimento descontrolado do endividamento, á medida que a lenta, mas inexorável caminhada para a anarquia se vai verificando, substituindo gradualmente a oligarquia de interesses solidamente estabelecida em Bruxelas e Estrasburgo. Veremos até onde sobrevive o sonho europeu.

Até lá, e felizmente para todos nós nunca Portugal teve um povo tão bem formado e informado, e aqui é que reside a esperança no nosso futuro colectivo. Percebermos o que nos divide, e procurarmos o que nos une, transformando sinergias em beneficios para todos e passando da fé á acção. Abençoados os pobres de espirito e os ignorantes pois será deles o reinos dos céus, aos outros resta-nos a terra, este nosso magnifico planeta que tudo nos dá, sem nada lhe pedirmos. As crises são essencialmente campos férteis em oportunidades, assim nós tenhamos a humildade de espirito, a coragem & audácia, mas tambem a resiliência necessárias para sabermos mudar. Começando pelo mais dificil. Nós mesmos.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

EUROLANDIA 2.0

Uma das virtudes das crises é unirem as pessoas nas dificuldades comuns, o mesmo acontece com os países quando a crise é de dimensões bíblicas, como a que actualmente enfrentamos.

Os nossos “queridos lideres” Europeus, perceberam finalmente que não é possível continuar com políticas de meios-termos e confortáveis indefinições, que SÓ servem interesses político partidários, relegando para segundo ou terceiro plano o real e efectivo interesse dos 440 milhões de cidadãos europeus que fazem parte integrante da Eurolandia.

Os 26 países efectivamente comprometidos com a Eurolandia, e que dela fazem parte uniram-se, em torno do Euro. Por enquanto ainda são só 16 os que integram o Euro, mas á medida que os “mercados financeiros” vão fazendo as suas vitimas, os processos de intenção de adesão ao Euro, apressaram-se rapidamente e ganharam peso nas agendas politicas dos 10 países que ainda não aderiram. Na frente deste pelotão a Suécia e a Polónia, a braços com dificuldades em garantir a estabilidade a prazo das respectivas moedas, já estão a tratar do seu próprio processo de adesão.

Ficou de fora mais uma vez o Reino Unido, que continua a, servir de peão de brega dos interesses americanos na Europa,  infelizmente sob a égide de um enorme equívoco dos seus governantes, que pensam que os “mercados” aos quais a city de Londres dá guarida, terão alguma contemplação quando chegar a hora de canibalizar a Libra Esterlina. ( Vide George Soros, 1992 )

Esta RE-União dos países Euro-monetarizados, em volta da sua moeda traduz de facto, um reerguer de barreiras defensivas face ao esperado colapso do USD, que na vã tentativa de evitar o continuo afundanço, se vai tentando valer dos que lhe estão mais próximos, lançando apelos desesperados ao enfraquecimento do Euro, para que á medida que este vai ocupando espaço como moeda de referência mundial, o resto do mundo não se aperceba tão rápidamente o quão prescindível e prejudicial á economia mundial se tornou o Dolar Americano, dada a continua politica de injecção de liquidez, por parte da FED, na impossibilidade do estado norte americano conseguir reunir todos os “Trilionésimos” fundos que necessita para assegurar o seu financiamento corrente.

Certo que todos nós europeus lamentamos profundamente o que está a acontecer nos EUA, até porque todos nós sabemos a luta hercúlea que o presidente Obama, está a enfrentar, tentando re-regulamentar os mercados financeiros e respectivos operadores, evitando que a ganância destes, continue a conduzir o país a uma bancarrota quase certa. Resta-nos desejar-lhe, boa sorte, pois nada mais podemos fazer por eles.

O ataque ao Euro por parte dos média anglo-americanos irá intensificar-se e é natural que na Europa os anglófonos de serviço, continuem a tentar protelar o inevitável fim da supremacia financeira anglo-americana no mundo, tentando criar cortinas de fumo, por nós bem conhecidas como o "problema grego" os "PIIGS" e etc...  

Com criação deste fundo de apoio no valor de 750 mM€, a União Europeia, criou as bases do futuro Fundo Monetário Europeu ( EMF na sigla inglesa ), indiciando o previsível abandono do FMI ( IMF ), onde é neste momento o maior contribuidor liquido com aproximadamente 35% do orçamento desta instituição e onde os EUA apesar de terem reduzido o seu peso de 35% para 17% ( para metade ) continuam – inexplicavelmente – a deter o direito de VETO, sobre todas as decisões.

O Recem criado Fundo Monetário Asiático ( AMF ), cujos principais financiadores  são a China e o Japão, já tinha colocado em causa a viabilidade do FMI,a prazo. Com a previsível a saída da Eurolandia em peso, só a redefinição do papel dos BRICS neste fundo o poderá salvar, do fim anunciado, dependendo o aumento das contribuições destes, do abandono do poder de veto  por parte dos EUA.

Os EUA arriscam-se a prazo a ser os primeiros potenciais beneficiários do mesmo, uma vez que a Europa terá obrigatoriamente que “deitar a mão” ao Reino Unido sob pena, deste ao afundar-se poder afectar também a solidez financeira Europeia. 

A relativa juventude dos novos lideres Britânicos, poderá ajudá-los a ultrapassar traumas antigos e a  pedir a adesão ao Euro, antes de serem confrontados com a impossibilidade prática de obterem financiamento nos mercados de 200 mM€ que irão necessitar durante o verão para suprir as suas necessidades de tesouraria. É que mesmo a Libra esterlina, também tem os seus limites de sobre - valorização.

Finalizo lembrando que a criação do Fundo Monetário Europeu, é tardia e não decorre de uma decisão estratégica, como deveria ter acontecido aquando da criação do próprio Euro, antes é fruto de uma manobra de recurso que visa reforçar uma moeda que tinha tudo para já ter substituído o Dolar americano como moeda de referência mundial, mas acabou enfraquecida pela falta de visão e de um desígnio verdadeiramente pan-europeu partilhado e abraçado por todos os lideres europeus. 

Veremos agora, se confrontados com este novo paradigma, os nossos “queridos líderes” europeus percebem de vez que a União Europeia, na pessoa da sua mais recente criação a Eurolandia, é um caminho sem retorno.

Quanto ao Euro, está bem e recomenda-se.

terça-feira, 4 de maio de 2010

TGV – Equívocos e Re (in) flexões

A linha Lisboa - Caia (Madrid), é das 3 linhas inicialmente programadas, aquela cujos valores de rentabilidade esperada, menos impacto negativo poderá vir a produzir na conta de exploração da CP ou de qualquer outro concessionário que a venha a explorar.

Ainda assim e se a rentabilidade fosse atractiva certamente haveria operadores privados interessados em a construir e explorar, mas não há, um único. Se isto é sintomático, e nos diz muito sobre o risco associado a esta construção, mais questões nos levanta acerca da sua exploração futura.

Por outro lado esta linha, significa uma ligação em alta - velocidade á respectiva rede transeuropeia e a prazo, com o aumento esperado dos preços do petróleo, e o subsequente aumento das tarifas aéreas, poderá vir a revelar-se de importância estratégica para o nosso país. Este é sem duvida o argumento de maior peso, usado pelos indefectíveis apoiantes da sua construção.
 
Mas vejamos melhor...
A construção da linha TGV Lisboa - Madrid, implica também a construção da terceira travessia do Tejo em Lisboa ( TTT- Lx ), a não ser que queiramos que a ultima estação do TGV, fique no Barreiro e depois os passageiros atravessem o rio nos barcos da Fertagus !!??

É assim que de um investimento inicial estimado de 3,000 milhões de Euros, ( divididos por 6 anos ), para a construção da linha de TGV, teremos que lhe acrescer pelo menos outros 2,000 milhões para a construção da TTT, ferro/rodoviária,  e o investimento publico passa de 3 para 5,000 milhões de euros, com a expectativa de que os números finais possam efectivamente dobrar estes valores, dada a habitual incúria e falta de zelo a que os nossos governantes e subsequentes organismos de controlo da execução das contas publicas já nos habituaram.

De um investimento inicial de 500 milhões de euros / ano -  equivalente a 1% a mais na Taxa de IVA - passamos para um investimento  que custará ao estado não menos de 850 milhões de euros/ ano com toda a certeza e que poderá ira alem dos 1,000 milhões/ ano, o custo total dos 2 submarinos, recentemente adquiridos.

Dir-me-ão desta vez os defensores do investimento publico que esta é uma forma de ir mantendo a economia á tona de água, impedindo-a assim de se afundar definitivamente no mar de desânimo e desalento que aos poucos parece estar a tomar conta de nós.

Será este o melhor investimento publico? É  que a incorporação de mão de obra, nacional é mínima, sendo que o grosso dos trabalhadores a ocupar será mão de obra estrangeira, boa e barata.

Quanto á incorporação de tecnologia industrial nacional, não deverá ultrapassar os 20%, uma vez que praticamente todo o equipamento com valor acrescentado significativo é importado.
Por outras palavras o efeito desmultiplicador deste investimento na economia portuguesa, é substancialmente reduzido, contudo o compromisso financeiro é efectivo e fica para as próximas gerações.

Sendo o tecido empresarial português composto em mais de 90% por PME´s, a minha questão é saber se não haverá outras formas mais prementes, dirigidas e focadas de aplicar o investimento publico?

O exemplo de uma boa opção de investimento publico é o programa de reconstrução de escolas publicas, que tem permitido manter sobrevivas inúmeras empresas na área da construção, evitando assim mais custos para o estado via aumento do desemprego e menos impostos arrecadados, caso a falência destas empresas se verificasse em catadupa, o que até agora ainda não aconteceu.

Um outro argumento usado pelos defensores do TGV, é o apoio comunitário. cerca de 1/3 do investimento a realizar no TGV, pode provir do orçamento da EU. Recordo que a EU apoia com base nos valores iniciais e não nos valores finais verificados pelo que a fracção (1/3) facilmente poderá ver o seu denominador multiplicado por 2, ou por 3..

Se por mera hipótese os mercados internacionais nos viessem a demonstrar que a nossa capacidade de endividamento externo, estivesse próxima do limite, e fossemos obrigados a prescindir de alguns destes investimentos públicos, será que a construção do Novo Aeroporto não ultrapassaria facilmente a necessidade de construção do TGV ?

Nota: Portugal é o país do Euro cujo o valor do Endividamento Externo ( Estado + Empresas + Famílias ), é maior face ao PIB, colocando-nos numa situação pior que a Grécia, Itália, Espanha, Irlanda ou mesmo Reino Unido.