domingo, 16 de outubro de 2011

Crise sistémica Global 2008….2020 (resumo)


Fase 1 – 2006/2007 – Sintomas
Quebra abrupta nos mercados em Agosto/2006, inicio da crise do Sub-Prime ( mercado imobiliário de segunda habitações / hipotecas nos EUA ).

Fase 2 – 2008/2009 – Choque – Falência do Leman Brothers provoca efeito em cadeia, aparentemente estancado pelo plano de intervenção de emergência criado para o efeito pela Reserva Federal Americana a equivalente nos EUA ao Banco Central Europeu (BCE).
Reacção em cadeia em todo o mundo ocidental, que conduz ao fecho dos mercados interbancários por quebra de confiança dos bancos uns nos outros ( até há data não voltou a funcionar da mesma forma ).

(a partir daqui, a crise da divida da Grécia antecipou estas datas em 1 ano)
Fase 3 – 2009/2010 – Reacção – Governos de todo o mundo assustados e desorientados pelas consequências devastadoras da reacção em cadeia ocorrida no sistema financeiro global, tomam medidas avulsas recorrendo às teorias Keynesianas numa economia global totalmente aberta, quando o sucesso deste tipo de medidas pressupunha economias relativamente fechadas e isoladas. O efeito placebo destas medidas, produz crescimento económico aparente, enquanto agrava fortemente o deficit orçamental e a divida publica & externa de todos os países ocidentais sem excepção (Alemanha inclusive ). A maioria dos cidadãos fica «baralhado» com os sinais contraditórios que vai lendo da realidade percebida, realidade esta que resulta quase exclusivamente da adição à corrente mediática prevalecente nomeadamente a televisão & os jornais, e incorre em decisões inversas das que devia tomar.

Fase 4 – 2010/2011 – Tomada de consciência – Os aumentos de deficits orçamentais em 2008, 2009, 2010, produzem os seus resultados, fazendo disparar as dividas publicas confrontando os governos das economias mais frágeis com a inevitável necessidade de reequilibrar contas públicas. Os cidadãos «embalados» por politicas demagógicas, sofrem novo choque por via da necessidade de aumento de carga fiscal, e perspectivas económicas ainda mais negativas, que as de 2008. O medo instala-se, a procura de informação credível fora da corrente mediática prevalecente, aumenta exponencialmente, as redes sociais surgem como a fonte de informação credível por excelência, embora muitas vezes contraditória e pouco verosímil para o comum cidadão.

Fase 5 – 2011/2013 – Ajustamento fiscal de choque – Confrontados com situações reais de  banca rota absoluta & real, os governos das economias mais frágeis, optam pelo caminho politicamente possível em jovens democracias frágeis, assentes em povos politicamente imaturos e com baixos níveis de competências sociais e submetem-se a programas de ajustamento económico assentes em pressupostos e premissas, que não levam em conta a falta de competitividade das respectivas economias, conduzindo-as , para ciclos viciosos de AUSTERIDADE & DEPRESSÃO, e destruindo a pouca massa crítica que ainda resta a essas economias e que poderia servir de base a uma nova fase de crescimento, via canibalismo fiscal às PMEs e aos rendimentos do trabalho dos seus mais brilhantes profissionais, levando estes a emigrarem maciçamente.

Fase 6 – 2014/2015 -  Confrontados com crescimentos anuais negativos do PIB superiores a  -5% ;

que reduzem a receita fiscal em vez de a aumentar, condicionando assim o necessário reequilíbrio das contas publicas;

que aumentam o desemprego, pressionando insuportavelmente  o orçamento da segurança social, criando roturas de tesouraria e falhas nos pagamentos de subsídios de desemprego, reformas e outros apoios sociais;

que aumentam os rácios de endividamento dado que a base (PIB) é menor mesmo que o crescimento da divida publica seja nulo;

os governos das economias mais frágeis, são obrigados a ter de escolher entre uma destas opções:

Renegociação da divida, com perdão parcial da mesma, redução das taxas de juro e adiamento do prazo de pagamento da restante, com a colaboração e o apoio das instâncias europeias (hipótese mais provável )
Recuperação da política monetária e da respectiva moeda abandonando o projecto da moeda comum, assumindo custos devastadores nos primeiros 3 anos após a decisão, mas em simultâneo permitindo um ajustamento económico ao novo paradigma global e uma capacidade de recuperação do crescimento mais rápidas, à custa de situações de rotura que se podem vir a revelar traumatizantes no futuro especialmente a nível social. ( Hipótese menos provável )


(Não vale a pena perspectivar alem disto, porque dependendo das decisões e muito em especial do timing destas os cenários macroeconómicos e sociais podem mudar consideravelmente)

Nota do autor – Qualquer que seja o governo português, hoje, não dispõe da necessária soberania para conduzir politicas próprias, pelo que não adianta criticar o governo.

O importante é aproveitar a oportunidade & aberturas criadas na sociedade civil nestes períodos de reajustamento económico, dado que o sofrimento pessoal funciona como um forte motivador que predispõe as pessoas à mudança. Só através de uma mudança radical de mentalidades e comportamento poderá o país recuperar a sua soberania, porque só uma sociedade civil forte e assente em princípios e valores válidos para alem dos tempos, poderá produzir uma classe politica responsável e digna de conduzir os esforços de todos em proveito do bem comum.

Esta obrigação de ajudar os menos informados, preparados e/ou capazes é de todos aqueles que por uma razão ou outra tiveram a oportunidade de usufruir de níveis de formação / educação médios ou superiores, mas também de todos os que com a sua experiência sintam que o devem fazer. Deverá ser também um esforço de adaptação intergeracional, caso contrário a rotura geracional pode conduzir a situações de desequilíbrio que em nada beneficiam o colectivo.

Carpe Diem

@CMS, 2011.10.15

3 comentários:

  1. Muito boa, a sinopse do que aflige o mundo chamado "civilizado" no momento.
    Optimista,que é o que se quer,contrariando o habitual discurso derrotista dos nossos
    caros compatriotas, que talvez por vias dos tão famosos brandos costumes, se entreguem ao
    velho hábito de delegar em mãos terceiras (ou quartas) a acção propriamente dita.
    Parabéns, portanto, pelo espírito empreendedor e obrigada pelas palavras de incentivo.

    Permita-me, no entanto, discordar sobre a falta de soberania do nosso Governo. Tem a soberania
    que lhes foi concedida pelos eleitores. Tem a soberania para, em nosso nome deles (nosso), negociar a razonabilidade das medidas que nos são impostas. Não aceito ter um governo "porta voz" da UE, sendo que tudo o que nos reportam, é o modo como temos que pagar pelas asneiras dos sucessivos governos deste País. O nosso governo tem que ter soberania para assumi-los e, com quem no-los cobra, encontrar um consenso, de modo a que o cidadão/eleitor seja respeitado pelo menos, no que ao mais básico da sua subsistência diz respeito. Moral e física.


    "dado que o sofrimento pessoal funciona como um forte motivador que predispõe as pessoas à mudança "

    Das verdades mais empíricas que já li. Imagine-se só o sofrimento que foi para mim, ter que criar uma nova conta, quando percebi que as que tinha, estavam bloqueadas para este lindo blog, onde se diz que se espalha o Amor e a
    Compreensão.
    É muito dura a vida de uma blogger contestatária e solidária para com o seu congénere.

    Isa, do blog "Para que serve"

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  2. Isabel, infelizmente a soberania de quem deve, e precisa dos credores para pagar os ordenados de 120,000 professores ou outros tantos médicos, é nula.

    Podemos alvitrar argumentos, sobre o que nos trouxe até aqui, ou dar sugestões mais ou menos utópicas, mas talvez nos falte o que já se está a passar na Grécia, para percebermos a real gravidade da situação; salários, pensões e subsidios de desemprego com atrasos de 3/6 meses, pagos pelo próprio estado...

    PS - Quanto ao que refere sobre a dificuldade de aceder a este Blog, lamento mas desconhecia esse impedimento, e ainda bem que o conseguiu ultrapassar.

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  3. Creio tratar-se de um vídeo já bastante conhecido, mas nunca é demais relembrar:
    http://www.youtube.com/watch?v=ICVzVKQaaFQ
    No que à soberania diz respeito, estou de acordo com a Isabel.
    Gostei de ouvir o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa no Domingo falar sobre o valor dos prémios previstos pela Federação Portuguesa de Futebol aos jogadores (em caso de apuramento), assim como gostei de saber que neste momento há Câmaras Municipais a fazer concursos para a iluminação de Natal, deve ser para nos iluminarem a tristeza e a indignação.
    Acredito que a soberania do Governo é a suficiente para manter um mínimo de decência. Também não ouvi falar em cortes nas "mordomias" dos Deputados e membros do Governo, assim como também não ouvi falar em cortes nas verbas que os Partidos Políticos recebem. Haveria, certamente muito mais em que cortar, mas escolhe-se sempre o mesmo "desgraçado". É indecente o que o Governo fez em cortar dois subsídios a quem recebe mais de mil Euros por mês, ou um subsídio a quem recebe menos, é indecente termos que pagar pelos erros dos outros. É indecente que os nossos, inocentes, filhos tenham que pagar pelos graves erros dos outros.
    Viva a Crise, só para alguns!...

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