quarta-feira, 2 de maio de 2012

Aligeirar os efeitos da depressão económica - Parte III de III


O segundo vector estratégico de acção prende-se com o aligeirar da pressão que o serviço da divida pública, está a causar sobre as contas públicas por um lado e o serviço de divida privada está a causar sobre os orçamentos das empresas e famílias, por outro, este efeito agravado com a pressão exercida pelo sistema bancário sobre estas.


Se por um lado o BCE, tem estado a intervir fortemente no sentido de impedir o colapso da zona EURO, e em especial dos bancos nacionais, por outro os bancos nacionais condicionados pelo elevado número de falências e o exponencial aumento do crédito mal parado, não se encontram em condições objectivas de fazer reflectir o apoio do BCE, sobre as empresas ou famílias, nomeadamente aligeirando as fortes restrições à cedência de crédito. O que está a acontecer é até o contrário, pois na ânsia de reduzirem rapidamente a sua exposição creditícia os bancos estão a aumentar spreads às empresas e a contribuir de uma forma decisiva, para a falência de muitas, em especial PMEs que como sabemos são as empresas que mais volume de emprego geram, no seu todo.  Um maior controlo sobre a actividade bancária será sempre bem vindo.

Face a esta evolução do crédito bancário privado, e à mais recente evolução das contas públicas, facilmente se depreende, que só há 2 formas de sair deste ciclo de divida, recessão & mais endividamento. Uma é através da inflação, (desvalorizando assim o capital em divida, embora com algumas consequência nefastas a médio prazo ) caminho prontamente repudiado pelas instâncias financeiras europeias, com a Alemanha no comando, o outro é através do perdão parcial das dívidas, sejam elas privadas ou públicas.

A não ser que a redução do ritmo de crescimento mundial conduza a uma redução das exportações alemãs, o que não está a acontecer se levarmos em conta os dados referentes aos primeiros dois meses de 2012, em que houve inclusivamente um aumento. A Alemanha, não irá abandonar o pilar da estabilidade de preços, o que nos remete para a segunda alternativa.



Nesse sentido e na nossa humilde opinião, o governo português, ao persistir na ideia de que «Portugal irá cumprir» com o serviço de divida, quando na realidade estamos à mercê da mais vil ganância dos mercados, comandados por Wall Street & Friends, está a cometer o erro de tentar tapar o sol com a peneira, como se a realidade que habitualmente é manipulada pelos media nacionais a favor do governo fosse extensível ao resto do mundo, ou por outro lado o desconhecimento do evoluir das contas públicas, que evidenciam uma  significativa quebra das receitas fiscais, não fosse público e consecutivamente referido pelos partidos da oposição.


Este ERRO CRASSO  da governação, com que os governos  democráticos tentam iludir o povo, sobejamente conhecido dos portugueses e de praticamente todos os povos do mundo ocidental, assume especial relevância, quando este governo foi eleito por uma pequena minoria, que com a conivência de uma larga abstenção, se converteu numa maioria parlamentar, que lhe oferece  condições de governação impares. Quem não se lembra da ambição de Francisco Sá Carneiro, um governo, uma maioria, um presidente ? Em 38 anos de Democracia, este é o primeiro governo que cumpre esse sonho de Sá Carneiro.

Assumir publicamente que Portugal terá de ter um perdão parcial da sua divida pública e que idênticos perdões terão de ser aplicados ao sector privado, e mudar a base da acção governativa nesse sentido é a única forma de aligeirar a inclinação fortemente descendente em que a economia portuguesa se encontra, e que culminará com um decrescimento económico que pode atingir os 8% no final de 2012, o que colocará Portugal não só perante a mais grave crise económica desde o inicio do século XIX,   mas também numa dependência de ajuda humanitária externa, que poderá colocar em risco a nossa própria existência enquanto país independente. Não nos esqueçamos que boa parte da nossa soberania, já se encontra no preciso momento em que escrevemos, parcialmente alienada.



Num mundo em crise profunda e mudanças aceleradas, é bom que  a governação assente mais nas evidências da realidade, que na gestão de expectativas, quando elas simplesmente não existem. Uma lição dura e difícil de apreender é certo, mas a única que nos poderá salvar do mais inevitável desastre, financeiro, económico & social. Novos problemas exigem novas soluções mas para que estas sejam possíveis, é necessária uma prévia mudança de mentalidades e comportamentos e esta só se consegue com lucidez, coragem, empenho e firmeza. 


Aos governantes pede-se que governem. 

Chega de ilusões. Já estamos a pagar caro por elas.

7 comentários:

  1. A “vil ganância dos mercados” apenas veio expor a mentira politica do dito Estado Social, crescentemente endividado por conta de algo que não controla e de uma constante venda de ilusões a um bando de analfabetos que não se preocupam com coisa alguma, ou pelo menos não se preocupavam, até há bem pouco tempo.

    Portugal, como país, necessita desta crise e viver os seus efeitos na plenitude para que os seus cidadãos percebam, de uma vez por todas, que direitos decorrem de responsabilidades, que prémios decorrem de esforço e que desenvolvimento decorre de conhecimento.

    Adiar mais uma vez o problema real do país, através de um perdão de dívida ou de reescalonamento da mesma, não é mais que um acto de cobardia e de falta de respeito para com as gerações futuras e do legado histórico que recebemos. Portugal não pode adiar mais os seus problemas para beneficiar por mais uma década ou duas, uma geração que entende que tem de ser sustentada por razão que não lhe assiste e por mérito que não tem. Em 38 anos de democracia, delapidou-se praticamente toda a reserva de ouro do país, destruiu-se a agricultura e a industria, e endividou-se toda a gente como se não existisse amanhã, por conta de alguém que ninguém conhece, que mais tarde… num futuro longínquo… pagará todas as nossas aventuras. Deveríamos era fazer já era uma proposta de beatificação de todos os portugueses que nasceram desde 1990, porque esses “ Santos” vão pagar por tudo o que fizemos e fazemos, acrescidos de juros de mora…

    Chega é de viverem nessa ilusão. De casas que não podem ter, de carros que não podem pagar, de comida Gourmet, de Hoteis de Charme, de SPA’s Fitness, de plásticas e jet Set, de um falso desenvolvimento assente num Estado falido e em esquemas vulgares. Os que cá estão não estão a pagar caro. Mas dos que cá estão, há uns que estão a pagar por todos há já algum tempo e chegou a hora de dizerem que não pagam mais, porque esses sim, estranhamente, também têm direitos. Como muitos e a título de exemplo, se não vou ter reforma na minha velhice e faço descontos há cerca de 20 anos, porque razão e nesta mesma terra há alguém ainda a receber uma reforma? Fica para pensar que esteja nesta situação

    Há um limite para o dito Estado Social. Tal como nunca houve Comunismo na Rússia, nós não vivemos num Estado Social. Aqui há muito para uns ( políticos, reformados e pensionista), e nada para outros ( trabalhadores ) que sustentam todos os anteriores e a geração que ainda há-de vir… Chega é deste falso Estado Social, onde os reformados são mais que os bebés há décadas, com pensões, saúde, transportes, energia, etc. pagos ou subvencionados e não deixam para traz nada a não ser “terra queimada”.

    Façamos como Copérnico e invertamos ao raciocínio para triunfar .... Dêem às crianças ou a seus pais, quem de facto a responsabilidade de criar e entregar potencial de riqueza a este país, os meios de eles se construírem como pessoas intelectualmente capazes e saudáveis. Se para isso os mais velhos tiverem de morrer à fome ( Deus me perdoe ), que assim seja mas isso não é mais do que a ordem natural das coisas e o melhor legado que um Ser humano deixa para as gerações futuras.

    Se não deixamos o mundo melhor do que aquele que recebemos, é porque falhámos totalmente na nossa missão como Seres Vivos e Inteligentes.

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  2. Caro Guy Fawkes, eu ia-lhe responder, mas a forma como acaba o seu comentário esclareceu-me.

    Eu defendo o adiamento, não uma inversão de caminho, tão só porque embora se cure definitivamente o animal matando-o, com a economia já não funciona assim.

    Reitero na integra o conteúdo do meu texto, apesar da sua critica.

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  3. Meu Caro Carlos Miguel

    Não pretendo de forma alguma com o que exprimi mudar a sua opinião. Vivemos numa democracia e cada um é livre de acreditar na sua solução para cada problema.

    Todavia permito-me uma última nota ainda a este respeito.
    Se o que defende é um “Adiamento”, perceba também que um adiamento, seja ele de que natureza ou para que finalidade for, acarreta sempre um lastro. E se você defende isso para si e para a sua geração, onde é que você vai estar mais esses seus (colegas geracionais), quando a geração seguinte achar que isso também era bom para eles mas não haver mais ninguém para lho dar… Sim. Porque você hoje não lhes consegue garantir isso. Se conseguisse. Quem mudava de opinião era eu e não o meu amigo.

    E assim lá se vai a (porcaria) da teoria da “Solidariedade Inter-geracional” tão falada pelos nossos políticos socialistas, quando quem fala não vai viver no amanhã mas por conta dele pretende garantir o seu presente.

    O Amanhã dá-nos direito a ter esperança e a acreditar que há-de ser melhor que hoje. Mas não nos dá o direito de para lá atirar com os nossos problemas, à espera que eles se resolvam por pessoas ou circunstancias que não conhecemos nem dominamos.

    Respeitosos cumprimentos e continuação do bom trabalho neste Blog.

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  4. Caro Guy Fawkes,

    Pelo que vou lendo do que escreve, e o amigo lê do que eu escrevo, facilmente decorrer que ambos temos um raciocínio suficientemente estruturado para mudarmos de opinião à primeira contrariedade, creio nas suas palavras quando afirma não ser essa a sua intenção, creia também que não é essa a minha intenção.

    De resto e lendo o que vai escrevendo não me é difícil concordar consigo, sempre que a sua argumentação se suporta em factos, já quando resvala para o campo das ideologias, não comento, nem alimento.

    Independentemente desse «lastro» de que fala e cuja existência sou obrigado a admitir, há no entanto um factor que o amigo não contempla nas suas cogitações e que se tem revelado determinante na realidade orçamental portuguesa.

    Não é a sua opinião ou a minha que as receitas fiscais não param de descer, e a despesa pública de aumentar, são factos que decorrem da análise dos boletins mensais publicados pela DGO. Partindo destes factos indesmentíveis e ou inegáveis, eu inverto o ónus da argumentação colocando-lhe a seguinte questão;

    Como pensa o amigo quebrar este ciclo de canibalização da economia, ultrapassado que está o ponto de «não retorno» da curva de Laffer ?

    É que a curto prazo e sem um aligeirar da «carga fiscal», o que eu vejo são falências em cascata, e o desemprego a evoluir exponencialmente, mas obviamente estou sempre disponível para aprender novas soluções, para problemas concretos, especialmente de quem apoia a actual politica de austeridade parcial por via do aumento dos impostos, como a que o actual governo preconiza.

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  5. Meu Caro Carlos Miguel

    A ultrapassagem da Curva de Laffer tem de ser constatada, como o meu amigo bem atenta, para se atacar a raiz do problema.

    Quando for notoriamente publico, isto é, quando estiver bem percebido por todos os cidadãos que não há mais hipóteses do Estado arrecadar receitas pela Via Fiscal para sustentar o aparelho de Estado e porque tal está a correr consecutivamente o desenvolvimento/descolagem da recessão, então tornar-se-á politicamente mais fácil resolver o problema pela sua raiz e que é, acabar de vez com o Estado Social, no seu formato actual. Há outras formas mas, esta, não serve.

    Se se cortassem já as reformas e pensões ou a saúde gratuita (parcialmente já feito) sem se ultrapassar a Curva de Laffer, o que se obtinha era um tumulto social sem precedentes e que não era compreendido pelo cidadão normal. Assim, daqui a mais uns trimestres, será fácil perceber que não há outro remédio.

    O problema é que o diferencial é tão grande que o “corte” tem de ser dramático para ser, como é comum hoje dizer-se, “sustentável”.

    O que está aqui em causa não é uma decisão racional e fria. Mas uma gestão política de circunstâncias que levará ainda mais algum tempo… mas que há-de lá chegar.

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    1. É impressão minha ou a questão que lhe coloquei ficou por responder ?

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  6. Eu entendo o que me está a tentar dizer, assim como compreenderá, que o que eu defendo, é um aligeirar da pressão fiscal sobre a economia e nomeadamente sobre as empresas que ainda geram e mantêm algum emprego.

    O que não está a acontecer e pelo que tudo indica esta pressão fiscal será agravada por mais este PEC, transvestido de «estratégia orçamental», aprovado anteontem.

    Ambos sabemos que a margem de manobra deste governo é nula ou mesmo negativa ( é obrigado a tomar medidas que na prática jogam contra a sua própria reeleição ), e que dada a bancarrota do país as regras nos estão a ser impostas de fora, nomeadamente pela cegueira da Senhora Merkel ( não nos esqueçamos que há mais Alemanha para alem de Merkel..).

    A culpa do nosso governo, é não tentar interferir no sentido de aligeirar as pressões austeritárias, respondendo com os próprios dados conhecidos da economia, ou só quando os dados estatísticos evidenciarem um decréscimo económico idêntico ao da última depressão, é que a politica irá alterar ?

    Cortar na despesa pública é ter a coragem de cortar nos «privilégios» de alguns, não é cortar onde é fácil, nomeadamente pensões e salários de FP´s.

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