quarta-feira, 11 de abril de 2012

Aligeirar os efeitos da depressão económica - Parte I de III

 A actual crise económica, deriva como sabemos de uma crise financeira, que teve origem há 40 anos (1971) com o fim do padrão Dolar-Ouro, com a entrada do mundo financeiro na era do DINHEIRO VIRTUAL.

 Se a agua, respeita as leis da física, nomeadamente a lei da gravidade correndo sempre para baixo, o dinheiro corre sempre para onde se pode multiplicar mais depressa. Este fenómeno impõe uma pressão constante ao sistema económico e financeiro que se não devidamente controlada, pode dar origem a desequilíbrios graves e incontornáveis, fazendo com que a História se repita em ciclos de 60/80 anos. Os conhecidos ciclos de Kondratiev*.

 Basicamente, estes ciclos repetem-se porque a memória da humanidade se vai esvanecendo, com o desaparecimento natural, das pessoas que viveram a última grande depressão, assim tem sido ao longo dos séculos e por isso as bancarrotas de todos os países europeus se foram sucedendo, Portugal teve 4 só durante o século XIX, e esteve próximo de uma no final da terceira década do século passado.

 A actual crise económica pode ser tão ou mais devastadora, como a última grande depressão de 1929/30, que como sabemos deu origem à Segunda Guerra Mundial e à morte de milhões de pessoas por todo o mundo. Se há factores que podem potenciar os seus efeitos devastadores, outros há que a podem amenizar, é nesses que nos devemos focar, para evitar que os primeiros nos conduzam a uma trágica repetição da história.

 Se considerarmos que as tendências que surgiram há 40 anos, e que nos conduziram ao ponto em que estamos, foram percorrendo o seu caminho ao longo dessas 4 décadas, não será difícil perceber que mesmo que se invertam essas tendências , até que essa inversão comece a produzir os necessários efeitos correctivos, é necessário tempo.

Em termos históricos, toda a vida de um homem , não passa de um lapso de tempo, e a experiência e o conhecimento acumulados por cada um de nós ao longo de 70 ou 80 anos de vida, só nos permite vislumbrar algumas destas tendências numa idade em que por norma já são poucos os que nos dão ouvidos.

Este fenómeno natural, faz com que o jovens governantes a esmagadora maioria, a viverem a 5ª / 6ª década de vida, e por isso com pouco mais de 2/3 décadas de experiência enquanto adultos, são facilmente conduzidos pela pressão do momento a tomarem decisões, que julgando serem as melhores, mais não fazem que acentuar os efeitos perversos, das próprias tendências que pretendem inverter.

Assim foi, com o anterior governo, com especial culpa para as instituições europeias, governadas por pessoas mais ou menos da mesma idade, que induziram e apoiaram por toda a europa, politicas keynesianas, válidas há 80 anos (!!?? ), mas que mostraram ser completamente desadequadas aos dias de hoje , assim está a ser com o actual governo que «apanhado» na corrente, com um leque de opções praticamente circunscritos ao programa da Troika, vitima da falta de preparação dos seus elementos para o pesado fardo da governação, se limita a ir governando à vista, e mostrando não ter nem «pulso» nem «mão firme» para contrapor os interesses instalados dos poderosos grupos económicos e financeiros internacionais, a quem tem forçosamente de estender a mão, sob pena de que senão o fizer, ainda agravar mais a situação já de si tragicamente desesperante, em que o país se encontra.

.../...

 * Nicolai Kondratiev - http://pt.wikipedia.org/wiki/Nikolai_Kondratiev
@cms 20120410

5 comentários:

  1. Que políticas keynesianas foram adoptadas pelo anterior governo e instituições europeias? Havias de beber menos dessa cena. Só vejo políticas neoliberais desde há 20 anos, por isso chegámos a este lindo estado de coisas.

    Foram as políticas keynesianas que tiraram os EUA da Grande Depressäo a partir de 1933 (New Deal), e fizeram a Europa recuperar após a destruiçäo da II GM. E só políticas keynesianas faräo sair desta crise actual. Mais austeridade (i.e. políticas neoliberais) só aumentam o buraco.

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  2. A austeridade tem duas vertentes.

    O aumento de impostos, e a redução de despesa pública.

    Como a primeira já se esgotou, a incidência agora é na segunda.

    Como o texto tem 3 partes, vou-me abster de ir mais longe, para não me repetir.

    Não há alternativa há austeridade, mas se houver, sou todo ouvidos...

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  3. Olá Miguel

    Sem querer contrariar os factos, vou tentar contribuir com algumas reflexões laterais, que visam apenas definir melhor o contexto desta e de outras crises, bem como contribuir e apoiar este teu trabalho. Apesar de muitas vezes não concordar contigo, creio que temos desenvolvido alguns diálogos enriquecedores e quiçá, tenham contribuído para um melhor entendimento e consubstanciação de ideias e de ideais.

    1 - Abandono do Padrão USD/Ouro: Apesar de muitos e reputados Economistas defenderem esta justificação peregrina. Eles têm falhado em explicar porque tendo sido abandonado o Padrão USD/Ouro em 1971, a crise se veio a revelar (por essa causa) em 2007/2008?
    Porque é que as outras crises que houve no meio, não tiveram essa origem? Ou se tiveram porque é que só agora descobriram isto? É que já passaram 40 anos!

    2 - Políticas, Keynesianas Vs (Neo) Liberais: Francamente não vejo bem nem umas nem outras na História económica desde 1971.
    Vejo sim uma data de tentativas e experiências, sucedendo-se no tempo, para resolver problemas nacionais e locais. Umas vezes mais liberais outras vezes mais intervencionistas.
    O New Deal de 1929 funcionou e bem, tal como posteriormente o Plano Marshall após 1945/46 na Europa. Mas em contextos absolutamente distintos e muito importantes para o resultado das medidas tomadas pelos respectivos Estados. Vejamos a que situações específicas me refiro:
    a) As dívidas dos países Europeus e dos EUA em 1929/30 não era em nada comparável com a actualidade.
    b) As perspectivas de crescimento económico na década de 30 do séc. XX nos EUA e Europa no Pós-Guerra, eram absolutamente fantásticas: Os EUA tinham ainda muitos kms de estradas e caminhos-de-ferro, pontes e barragens por construir e na Europa, havia que a reconstruir.
    c)A remuneração média dos operários nos EUA e na Europa, eram à época, 14 vezes menores (e estas contas estão enviesadas pelas remunerações da China, que como sabemos são uma miséria).
    d) O crescimento da População era real e a pirâmide etária era realmente uma pirâmide. Significa isto que havia muitos contribuintes de uma pequena parte dos seus salários para a segurança social, poder beneficiar com reformas os mais idosos que eram poucos e morriam antes dos 60 anos. Havia muito espaço para o lançamento de políticas sociais.
    e) O preço do petróleo era irrisório, o que permitiu a reconstrução e re-industrialização das economias a ritmos nunca vistos, mercê também dos desenvolvimentos tecnológicos trazidos pela guerra.

    (Continua...)

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  4. (...Continuação)


    3 - Inexperiência dos Executivos dos Governos - Concordo em absoluto com a tua explicação para o que se passou na 1ª década do Séc. XXI. Todavia o teu raciocínio sobre as 2/3 décadas de experiência de vida adulta desses executivos, é também válida para os governantes das décadas anteriores. E no entanto, nessas épocas a sucessão de asneiras foi bem menor.
    Exemplos de inexperiência são o actual governo britânico, o anterior e actual governo espanhol, o actual e anterior governo português, o actual governo francês. E no entanto a anterior (e actual) governo italiano, não cumprem este requisito, o mesmo se passa com a Grécia, ou sequer explica o desastre de Gordon Brown no reino unido.
    Penso que tocas num ponto importante, que tem a ver com a falta de memória que é proporcionada pela HISTORIA como cultura e como ciência aliada ao total desastre que têm sido as sucessivas reestruturações do sistema de ensino, não só ao nível pedagógico como ao nível de transmissão de competências básicas que nos transformam em CIDADÃOS. E o pior é que este desastre não se verificou só em Portugal.

    A pressão do momento e do contexto, não deixa de ser um factor importante, bem como a ignorância e má formação (educação) de alguém que devendo ser o melhor no exemplo, acaba por ser um exemplo de mediocridade que se revela até na falsificação das suas mais básicas habilitações literárias. O que isto revela sobre a ausência de carácter destes personagens, é que eu considero realmente vil e estar na origem desta sucessão desastrosa de asneiras.
    Quem não tem carácter, obviamente além de desconhecer as responsabilidades éticas das funções, nem sequer reconhece a responsabilidade moral dos actos que pratica, desde que os amigos lhe digam que ele é o maior.
    A isto chama-se incompetência, demagogia e corrupção.

    Abraços
    Fernando Caria

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  5. Bom dia Fernando,

    Em primeiro lugar quero agradecer o teu contributo para o enriquecimento destes meus pequenos resumos.

    Quem definiu o fim do padrão dolar-ouro como o inicio da actual crise fui eu, e assumi isso como pressuposto deste texto, sem prejuizo de outros poderem concordar ou não comigo.

    E defino-o porque no meu entender, é este o fenómeno que despoleta mais tarde os acordos do GATT de 1979, que vêm dar à China uma posição competitiva ímpar no mundo, pois colocam um povo miserável e faminto ( estima-se que 2% da população chinesa à data cerca de 600 M de pessoas, morreriam à fome ou de sub-nutrição todos os anos...) a competir com o resto do mundo. Os resultados aí estão.

    Recordo também que a acumulação de ouro, que era a razão de ser de todas as politicas orçamentais do estado novo e que condicionaram fortemente o nosso desenvolvimento económico ao longo de 4 décadas, impedindo-nos de ter Segurança Social, ou um Sistema Nacional de Saúde, devido à imperiosa necessidade de manter os orçamentos de estado superavitários, deriva desse padrão, pois como sabes para manter o valor do escudo, e ir aumentando a massa monetária necessária para auto-financiar os esforços de investimento público sem recorrer aos mercados de divida, assentava no padrão dolar-ouro.

    Com o fim desse padrão, tudo (ou quase) passou a ser possivel, até mesmo a ideia irreal, de se poder acumular divida até ao infinito. Em 4 décadas pelo menos 4 gerações nasceram e cresceram sob a égide desta ilusão. São estes os que hoje estão a pagar o preço mais caro, pois vivem num mundo, que ninguém lhes disse que existia.

    Não me vou alongar, mais dentro de 10 dias, publicarei a segunda parte, desta minha curta e resumida reflexão, tentando sempre focar-me nos pontos que considero essenciais, conto desde já contigo para complementares, com o teu nivel superior de conhecimentos. Não é assim mestre ? Ou será Doutor ? Abraço

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