Se no meio de toda esta crise económica e de valores em que vivemos eu tivesse que escolher um ou dois factos positivos, escolheria para a primeira a futura imposição de regras germânicas nas nossas contas publicas, e para a segunda o movimento civil voluntário recentemente consubstanciado pelo Projecto Limpar Portugal.
Se por um lado os anos de crise são anos de sofrimento humano puro e absoluto, também o são de um grande crescimento, é tempo de sofrer mas também de sonhar, porque quando um homem sonha o mundo pula e avança, já dizia o poeta.
A total ou quase total ausência de valores das sociedades ocidentais nas ultimas décadas, conduziu-nos a um imenso vazio na alma, que agora munidos de elevados ( ou nem tanto assim ) níveis de formação começamos finalmente a aperceber-mo-nos da armadilha da ganância material, efémera, vazia, egoista, sem sentido.
Por outro lado, a adolescente democracia portuguesa, parece agora acordar de mais uma noite de copos, e começa a despertar para um amanhecer que nos parece sombrio, mas onde a falta de autoridade e disciplina reinantes, a outra realidade não nos poderá conduzir, que não seja a de tomarmos medidas prementes e efectivas no sentido de corrigir essa ausência. Dando assim esperança a que outros valores renasçam da penumbra a que foram sujeitos ou por nós inconscientemente submetidos.
Esperemos no entanto que todos estes anos de liberdade nos permitam saber onde está o equilíbrio e não passarmos desta vez do 8 para o 80 como nas ultimas 3 décadas e meia passámos do 80 para o 8.
A legitimidade para exercer essa autoridade está em nós na sociedade civil e não no estado, através da nossa união, parte dessa legitimidade é conquistada com movimentos como este. Mas não vamos ficar por aqui, as comunidades participativas e interessadas nascem e multiplicam-se, em Lisboa, Carnide, Mouraria, Marvila ou o Beato lideram os movimentos civis que assumem ( finalmente ) nas suas próprias mãos o seu próprio destino, relegando ao estado o papel de executor, de linhas e directiva definidas sobre realidade concretas, em suma da vontade do cidadão. será uma questão de tempo, os caminhos estão traçados.
Dos planos grandioso, modernos e bonitos, iremos passar para a REALIDADE, a que nos for imposta por Berlim, ou qualquer uma outra. Será uma questão de tempo. O que não soubermos ou quisermos fazer por nós, ser-nos-á imposto, e aí perdemos a prerrogativa da escolha. Teremos alternativas?
Temos sempre, mas não são válidas, se quisermos esculpir com as nossas próprias mãos os alicerces do nosso futuro colectivo.
No dia 20 de Março, é o inicio de uma nova era, não o fim, assim nós tenhamos a humildade de saber agarrar a oportunidade.
Ergamo-nos!