sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Dolar vs Euro

A Grécia
Independentemente dos nossos amigos Gregos, não se terem portado bem nos últimos anos, em termos orçamentais, seria importante perceber que a Grécia não é, nem de longe o país da Europa que enfrenta a situação económico-financeira mais melindrosa. No entanto foi eleita para servir de “bode expiatório”, e ao mesmo tempo um teste á coesão da União Monetária Europeia.



Porquê a Grécia?
Porque com facilidade se colaram logo os restantes países mediterrânicos e se lhes atribuíu um acrónimo rural, para  (n)os designar. Mas será que os “Pigs” ( Portugal, Italy, Greece, Spain ), são assim realmente tão importantes, no seio da União Monetária que representem efectivamente um perigo real?



O reduzido peso dos PIGS..
Vejamos então, Portugal representa 1,8% da economia da União, a Grécia 2,6 %, a Espanha 11,8% e a Itália pouco mais de 16%.



Como sabemos e apesar de tudo a situação da Itália, não é tão grave como nos restantes 3 países, pelo que e a centrarmo-nos neles, facilmente verificamos que os 3 juntos não chegam a representar a dimensão da economia francesa que no ano passado atingiu um deficit orçamental na casa dos 8,3% e representa aproximadamente 20% do PIB da União.

Ainda que juntemos a este trio, a Irlanda, com o seu défice orçamental de 12,5% do PIB e a pesar 2% no PIB interno da União, continuamos a não atingir os 20%.. Recordo que quer a Irlanda quer a Grécia, já tomaram medidas efectivas de redução da despesa publica.

As Aldeias de Potemkim

Enquanto se distraem “os mercados” - acrónimo vulgarmente utilizado para mascarar os gananciosos especuladores que outra coisa não fazem do que multiplicar dinheiro através de complexos cálculos matemáticos que nada acrescem á riqueza real, e que criaram nos últimos 10 anos 30,000,0000,000 USD de activos fantasma, cujo o mediatismo transformou em activos tóxicos -, com o “problema Grego”, que vale 2,6% do PIB da União Monetária Europeia ( EURO ), esconde-se a derrocada financeira nos EUA e no Reino Unido, que colocam este dois países, numa situação económico financeira muito mais catastrófica, que a da Grécia, Espanha & Irlanda juntas. Não só pelo peso que têm na economia mundial, mas também pelos problemas estruturais das respectivas economias.



Os EUA, confrontados com a desindustrialização da sua economia e com o previsível fim do Dólar enquanto moeda de reserva mundial, estão no caminho para o abismo. A Inglaterra, totalmente despida das suas posses coloniais, e sem a protecção do EURO, enfrenta hoje uma crise estrutural com contornos idênticos á dos EUA, mas sem o poderio militar e a dimensão geo-estratégica destes, logo de consequências sociais ainda mais graves para o seu povo, que as dificuldades que o próprio povo americano já enfrenta no seu dia a dia.

Os EUA e o Reino Unido, transformaram-se hoje em autênticas Aldeias de Potemkin, ao terem permitido nos últimos 30 anos a destruição da sua economia real através da Globalização que os próprios fomentaram e alimentaram, um Paradoxo? Talvez.



Percebem hoje que sem uma base real, a colossal pirâmide invertida em que se transformaram os derivados, sub-derivados, sub-sub-derivados financeiros, não passavam de um punho de "madoffs", assente numcada vez mais exíguo vértice, chamado economia real.



Infelizmente para todos é a economia real que cria a esmagadora maioria dos empregos, embora o mais bem remunerados sejam os da área financeira..

Cortinas de Fumo
Veremos nos próximos tempos muitas outras cortinas de fumo a serem levantadas, com o intuito de nos desviarem a atenção dos problemas reais e efectivos. Prepara-se para breve uma venda de aproximadamente 120 Toneladas métricas de Ouro em barra das reservas do FMI, para ( segundo eles ) acalmarem o mercado do Ouro. Recordo que só a índia, recentemente adquiriu 200 Toneladas de uma vez só, e que as 120 Toneladas poderão ser colocadas num só dia, que não só haverá compradores para elas, como o preço do Ouro continuará a subir.



Não sei se o padrão ouro, se voltará a impor, mas sei que o padrão dólar, está condenado ao fracasso, por falência técnica da economia que lhe serve de base.

Ataques contra o Euro, por parte de investidores americanos e ingleses, primeiro na tentativa de evitar o colapso eminente da Libra, e depois o subsequente colapso do Dólar, serão a partir de agora uma constante, dado o “mar de liquidez” que a Reserva Federal Americana está a injectar nos mercados, com o objectivo de financiar o colossal défice orçamental americano que em 2010 alcançará os 12,5% do PIB.

Os EUA, estão a caminhar para uma situação de ingovernabilidade quase absoluta, e serão cada vez mais pressionados pela ascendente potencia asiática, que com curtos e lentos passos, vai reconquistando o seu lugar no mundo.

Nós Europeus, senão percebermos que somos hoje o ultimo arauto de esperança do mundo ocidental, e não tivermos a humildade de perceber porque é que a Alemanha, se mantem com deficits orçamentais abaixo dos 4%, sem nunca ter prescindido de um única grama das sua reservas de ouro, ao abrigo das vendas de ouro programadas pelo BCE, nos últimos 10 anos, teremos perdido mais uma oportunidade de deixarmos (ao fim de 65 anos..) de ser um “protectorado” dos EUA.


Urge reavaliar o peso politico & militar da UE, no novo paradigma mundial que se avizinha, pois passará cada vez mais por aí a manutenção da nossa capacidade politica de influenciar equilíbrios , mas também de garantir a sobrevivência do nosso “way of life” na próxima década. O Euro começa a assumir-se como a unica moeda verdadeiramente estável, e com força suficiente para encabeçar um cabaz de moedas, que passem a servir de referencia mundial substituindo definitivamente a ilimitada capacidade americana de se auto-endividar.

Perdoem-me não falar de Portugal, mas o nosso actual sistema de governação ( ..não estou a pôr em causa a Democracia ! ) não me permite sequer considerar os "nossos" actores políticos como intervenientes na definição do que será o nosso futuro.

Muito em breve, os nossos políticos, limitar-se-ão a ter de obedecer ás ordens que forem emanadas de Berlim ( como os Gregos & Irlandeses já estão a fazer, sem grandes ondas ), embora devidamente embrulhadas em papel de seda com laçarotes a condizer, e acompanhadas por meia dúzia de pasteis de Belém para não ferir susceptibilidades.

As eleições legislativas que se esperam para o final do Verão de 2010, não passarão de mais um mero pró-forma, como de resto já foram as ultimas, cujas consequências práticas todos temos tido a oportunidade de verificar, nos últimos meses. Os portugueses continuarão a votar nos mesmos acreditando piamente que serão eles os fieis depositários da nossa esperança, sem contudo perceberem que se trata de uma hipoteca, sem fim á vista.

14 comentários:

  1. Bom texto Carlos, aliás como é apanágio. Só tenho dúvidas acerca dos E.U.A., para todos os efeitos eles continuam a ter os homens mais ricos e as maiores empresas do Mundo, embora estarem a passarem algumas dificuldades.

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  2. Atá custa a acreditar não custa..? Já ouviste falar do conceito de Plutonomia ? Procura, informa-te e verás as razões por trás dos homens mais ricos e das maiores empresas do mundo.

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  3. As plutonomias estão condenadas ao fracasso. O problema é que podem levar imenso tempo até à ruptura de uma economia (infelizmente porque o abismo entre os mais ricos e os mais pobres é extremo numa plutonomia).

    Relativamente ao teu texto Carlos, não me parecem assim tão insignificantes as economias de países como Grécia, Irlanda, Portugal ou Espanha na UE, principalmente quando as outras grandes economias também vivem tempos muito difíceis.

    Cumprimentos.

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  4. Vitor, repara que quando menciono a pouca importãncia de Portugal, Grécia ou Irlanda, é em relação á União Monetária ( EURO ) e por contraposição aos problemas muito mais graves na California, Ohio, Reino Unido e outro estados Norte Americanos com economias maiores..

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  5. Como não sabia o que era uma plutonomia, fui pesquisar e, se houver por aí, mais alguém que não saiba, deixo aqui o endereço para um artigo interessante sobre este tema:
    http://quartarepublica.blogspot.com/2007/03/plutonomias-portugal-tambm-ser.html

    Não vou comentar o texto do Carlos, porque eu estou para a Economia, mais ou menos como o Alberto Caeiro estava para a Metafísica
    http://nescritas.com/homenagemfpessoa/obrafpessoa/1950/01/

    No último parágrafo do texto, o Carlos escreveu: "Os portugueses continuarão a votar nos mesmos acreditando piamente que serão eles os fieis depositários da nossa esperança, sem contudo perceberem que se trata de uma hipoteca, sem fim á vista."

    Se tivesse sido eu a escrever, terminaria assim:

    Os Portugueses continuarão a NÃO votar, por terem deixado de acreditar nos políticos e na política e não encontrarem alternativas fiéis onde possam depositar a sua esperança de que é possível mudar Portugal e acabar com a falta de ética e moral que se vive actualmente.

    Cumprimentos,
    Noélia

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  6. Voltei só para dizer que não imagino o que diria hoje o Alberto Caeiro sobre o tema proposto pelo Carlos, mas não resisto a deixar aqui um texto fabuloso desse grande heterónimo de Fernando Pessoa:

    "Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
    Mudo, mas não mudo muito.
    A cor das flores não é a mesma ao sol
    De que quando uma nuvem passa
    Ou quando entra a noite
    E as flores são cor da sombra.
    Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
    Por isso quando pareço não concordar comigo,
    Reparem bem em mim:
    Se estava virado para a direita,
    Voltei-me agora para a esquerda,
    Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés -
    O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
    E aos meus olhos e ouvidos atentos
    E à minha clara simplicidade de alma..."

    Alberto Caeiro

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  7. Correcção:
    Os meus comentários ficaram com o registo de publicação às 09:13 e 09:33, mas na realidade foram às 17:13 e 17:33.

    E agora são: 17:38.

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  8. Caro Carlos;

    So para tentar saber se é só comigo ou acontece com mais cibernautas:

    Os vídeos youtube "açambarcam-me" metade das frases dos primeiros parágrafos, o que me limita em muito a leitura do texto.

    Se é só comigo, como resolvo isso?

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  9. Olá Carlos.

    Interessante escrito, com bastantes estatísticas.

    Diz a comentadora Noélia que os portugueses vão continuar a preferir não votar.

    Aì está. Este é o Português que impera. O que pensa que resolve os Problemas não fazendo rigorosamente nada.

    O PEC sairá esta semana, veremos com que compromissos para Portugal, espero que o "Governo" português não apresente um documento malabarista em jeito de coitadinho, caçador de esmolas, mas que apanhe uma prensada externa para acordar.

    Sabes qual é a minha intervenção no momento, e que planos se preparam com o labor e dedicação de alguns.

    A culpa dos políticos que temos é tão somente dos Portugueses que preferem assistir ao saque do país impávidos, criticar de bancada sem ir à barra, e não votar.

    Farão uma greve de vez em quando, mostrando alguma vida. Mas a medo, sofrendo de síndrome de pequenez crónica com laivos de frustração reminiscente.

    Amigos, a nossa capacidade mostra-se por aquilo que conseguimos ver, quem somos mostra-se pela capacidade de colocar no chão a cavalagem produzida pelo nosso motor.

    Deixo a reflexão e dêem um salto ao

    http://BuildingEurope.blogspot.com

    San

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  10. Acabei de ouvir a "Grande Entrevista" na RTP1, em que o convidado foi o Prof. Medina Carreira. Para mim foi mais do que a Grande Entrevista, foi a Enorme Entrevista. É impressionante e admirável, como o Prof. explica as coisas de uma forma tão simples e óbvia. Segundo ele não estamos tão mal como a Grécia, mas se continuarmos a arrastar os pés, para lá caminhamos. O Orçamento é, na sua opinião "coisa nenhuma" e o continuar do arrastar dos pés. De acordo com as contas que fez, cada Português deve cerca de dezoito milhões de Euros ao estrangeiro, quando há dez anos seriam entre dois a quatro mil Euros. Queremos fazer coisas que nem os países ricos e desenvolvidos fazem, como auto-estradas, mais um aeroporto e o TGV e continuarmos a aumentar o nosso endividamento externo. No PEC ele colocaria as reformas que não se fizeram e que são urgentes, da justiça, da educação, da burocracia, do arrendamento e mais uma ou duas que já não me recordo... porque é que os políticos do nosso país não ouvem o que diz este homem? Será porque não lhes convém?...

    4 de Março, 22:35

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  11. Correcção:
    Estive a rever a Grande Entrevista e há que fazer a seguinte correcção: cada português deve dezoito mil Euros e não dezoito milhões como referi ontem. Há dez anos o valor em dívida era de mil/ dois mil euros.

    http://ww1.rtp.pt/multimedia/index.php?tvprog=1436

    O meu pedido de desculpa pelo lapso.
    (22:28)

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  12. Lá chegaremos Noélia...

    O meu reconhecimento por ser (aparentemente) a única mulher que reconhece valor neste antro de masculinidade esclarecida.

    Faça publicidade.

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  13. Here comes the first municipal Hail Mary: Detroit is attempting to sell $250 million in debt, while disclosing in the associated prospectus of the possibility of filing for Chapter 9 bankruptcy protection. The kicker - no recent financial statements are available. In fact, Detroit is providing investors with a a financial statement from June 30, 2008, with a fiscal 2009 report "expected" to be complete by May 31. To say that a lot has changed in the past two years for the city whose unemployment some say is in the double digits with a 3 handle, would be an understatment. Yet we are confident that having no access to actual financials will not stop investors who in their feverish quest of Return On Capital are completely forgetting about the Return Of Capital concept.
    “This issue is not for the faint of heart,” said Richard Ciccarone, chief research officer of Oak Brook, Illinois-based McDonnell Investment Management, which oversees $6.8 billion of municipal debt. “It certainly raises eyebrows.”
    Detroit will provide backing by payments of state aid from sales taxes to the general obligation issue, which enabled the issue to maintain investment grade. Michigan’s state treasurer can pay the aid directly to the trustee for the bonds, bypassing the city to ensure the debt is serviced, according to offering documents. The treasurer also agreed not to withhold payments when the city is late filing financial statements, as it has in the past.
    And just who is the bank that is confident it can pull the wool in front of its clients' eyes? Why Goldman Sachs of course.
    Detroit is selling $250 million of bonds through investment banks led by Goldman Sachs Group Inc. to help cover budget deficits expected to total $280 million this year. The deal will probably appeal to investors seeking high-yield municipal debt, predicted Ciccarone, precluding the city from a market with tax- exempt yields near three-month lows.
    Not too surprisingly, Detroit will end up paying a spread evern greater than Greece
    Detroit general obligations maturing in 2024 traded yesterday at a yield of 7.56 percent, according to Municipal Securities Rulemaking Board data. That compares with yields of 3.36 percent to 3.5 percent for top-rated 14-year municipal debt yesterday, according to Municipal Market Advisors Inc.
    This is the lunacy of CDOs all over again, when every Tom, Dick and Harry would park their capital into whatever was being pitched to them by Goldman persistent , having no idea about the actual investment, with Goldman most certainly buying up CDS on Detroit just after the closing of the auction, for "hedging purposes" (and no, that in itself will not push Detroit into bankruptcy: at best it will make the imminent solvency crisis come faster and be more painless).
    Detroit is not alone as munis slowly but surely become the next subprime. On deck as offerings by Florida, California, Massachussettes, and variety of other municipal issues.

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  14. Caro Eduardo Sanfins,

    Por este caminho, não duvido que lá chegaremos... aos dezoito milhões, claro! Espero é que os Portugueses não o permitam e que despertem muito antes disso...

    Temo não ter entendido muito bem o seu comentário em relação à afirmação: "Faça publicidade." A quê?!...

    No outro dia citei o nome de Alberto Caeiro, hoje deixo aqui o endereço para quem quiser relembrar o Manifesto de Almada Negreiros, dedicado aos "Dantas de Portugal"! Pim!

    http://www.youtube.com/watch?v=CSRC6-XgSHo

    Cumprimentos,
    Noélia

    Pim!!!
    (Às 23:10)

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