A Grécia
Independentemente dos nossos amigos Gregos, não se terem portado bem nos últimos anos, em termos orçamentais, seria importante perceber que a Grécia não é, nem de longe o país da Europa que enfrenta a situação económico-financeira mais melindrosa. No entanto foi eleita para servir de “bode expiatório”, e ao mesmo tempo um teste á coesão da União Monetária Europeia.
Porquê a Grécia?
Porque com facilidade se colaram logo os restantes países mediterrânicos e se lhes atribuíu um acrónimo rural, para (n)os designar. Mas será que os “Pigs” ( Portugal, Italy, Greece, Spain ), são assim realmente tão importantes, no seio da União Monetária que representem efectivamente um perigo real?
O reduzido peso dos PIGS..
Vejamos então, Portugal representa 1,8% da economia da União, a Grécia 2,6 %, a Espanha 11,8% e a Itália pouco mais de 16%.
Como sabemos e apesar de tudo a situação da Itália, não é tão grave como nos restantes 3 países, pelo que e a centrarmo-nos neles, facilmente verificamos que os 3 juntos não chegam a representar a dimensão da economia francesa que no ano passado atingiu um deficit orçamental na casa dos 8,3% e representa aproximadamente 20% do PIB da União.
Ainda que juntemos a este trio, a Irlanda, com o seu défice orçamental de 12,5% do PIB e a pesar 2% no PIB interno da União, continuamos a não atingir os 20%.. Recordo que quer a Irlanda quer a Grécia, já tomaram medidas efectivas de redução da despesa publica.
As Aldeias de Potemkim
Enquanto se distraem “os mercados” - acrónimo vulgarmente utilizado para mascarar os gananciosos especuladores que outra coisa não fazem do que multiplicar dinheiro através de complexos cálculos matemáticos que nada acrescem á riqueza real, e que criaram nos últimos 10 anos 30,000,0000,000 USD de activos fantasma, cujo o mediatismo transformou em activos tóxicos -, com o “problema Grego”, que vale 2,6% do PIB da União Monetária Europeia ( EURO ), esconde-se a derrocada financeira nos EUA e no Reino Unido, que colocam este dois países, numa situação económico financeira muito mais catastrófica, que a da Grécia, Espanha & Irlanda juntas. Não só pelo peso que têm na economia mundial, mas também pelos problemas estruturais das respectivas economias.
Os EUA, confrontados com a desindustrialização da sua economia e com o previsível fim do Dólar enquanto moeda de reserva mundial, estão no caminho para o abismo. A Inglaterra, totalmente despida das suas posses coloniais, e sem a protecção do EURO, enfrenta hoje uma crise estrutural com contornos idênticos á dos EUA, mas sem o poderio militar e a dimensão geo-estratégica destes, logo de consequências sociais ainda mais graves para o seu povo, que as dificuldades que o próprio povo americano já enfrenta no seu dia a dia.
Os EUA e o Reino Unido, transformaram-se hoje em autênticas Aldeias de Potemkin, ao terem permitido nos últimos 30 anos a destruição da sua economia real através da Globalização que os próprios fomentaram e alimentaram, um Paradoxo? Talvez.
Percebem hoje que sem uma base real, a colossal pirâmide invertida em que se transformaram os derivados, sub-derivados, sub-sub-derivados financeiros, não passavam de um punho de "madoffs", assente numcada vez mais exíguo vértice, chamado economia real.
Infelizmente para todos é a economia real que cria a esmagadora maioria dos empregos, embora o mais bem remunerados sejam os da área financeira..
Cortinas de Fumo
Veremos nos próximos tempos muitas outras cortinas de fumo a serem levantadas, com o intuito de nos desviarem a atenção dos problemas reais e efectivos. Prepara-se para breve uma venda de aproximadamente 120 Toneladas métricas de Ouro em barra das reservas do FMI, para ( segundo eles ) acalmarem o mercado do Ouro. Recordo que só a índia, recentemente adquiriu 200 Toneladas de uma vez só, e que as 120 Toneladas poderão ser colocadas num só dia, que não só haverá compradores para elas, como o preço do Ouro continuará a subir.
Não sei se o padrão ouro, se voltará a impor, mas sei que o padrão dólar, está condenado ao fracasso, por falência técnica da economia que lhe serve de base.
Ataques contra o Euro, por parte de investidores americanos e ingleses, primeiro na tentativa de evitar o colapso eminente da Libra, e depois o subsequente colapso do Dólar, serão a partir de agora uma constante, dado o “mar de liquidez” que a Reserva Federal Americana está a injectar nos mercados, com o objectivo de financiar o colossal défice orçamental americano que em 2010 alcançará os 12,5% do PIB.
Os EUA, estão a caminhar para uma situação de ingovernabilidade quase absoluta, e serão cada vez mais pressionados pela ascendente potencia asiática, que com curtos e lentos passos, vai reconquistando o seu lugar no mundo.
Nós Europeus, senão percebermos que somos hoje o ultimo arauto de esperança do mundo ocidental, e não tivermos a humildade de perceber porque é que a Alemanha, se mantem com deficits orçamentais abaixo dos 4%, sem nunca ter prescindido de um única grama das sua reservas de ouro, ao abrigo das vendas de ouro programadas pelo BCE, nos últimos 10 anos, teremos perdido mais uma oportunidade de deixarmos (ao fim de 65 anos..) de ser um “protectorado” dos EUA.
Urge reavaliar o peso politico & militar da UE, no novo paradigma mundial que se avizinha, pois passará cada vez mais por aí a manutenção da nossa capacidade politica de influenciar equilíbrios , mas também de garantir a sobrevivência do nosso “way of life” na próxima década. O Euro começa a assumir-se como a unica moeda verdadeiramente estável, e com força suficiente para encabeçar um cabaz de moedas, que passem a servir de referencia mundial substituindo definitivamente a ilimitada capacidade americana de se auto-endividar.
Perdoem-me não falar de Portugal, mas o nosso actual sistema de governação ( ..não estou a pôr em causa a Democracia ! ) não me permite sequer considerar os "nossos" actores políticos como intervenientes na definição do que será o nosso futuro.
Muito em breve, os nossos políticos, limitar-se-ão a ter de obedecer ás ordens que forem emanadas de Berlim ( como os Gregos & Irlandeses já estão a fazer, sem grandes ondas ), embora devidamente embrulhadas em papel de seda com laçarotes a condizer, e acompanhadas por meia dúzia de pasteis de Belém para não ferir susceptibilidades.
As eleições legislativas que se esperam para o final do Verão de 2010, não passarão de mais um mero pró-forma, como de resto já foram as ultimas, cujas consequências práticas todos temos tido a oportunidade de verificar, nos últimos meses. Os portugueses continuarão a votar nos mesmos acreditando piamente que serão eles os fieis depositários da nossa esperança, sem contudo perceberem que se trata de uma hipoteca, sem fim á vista.