O segundo vector estratégico de acção prende-se com o
aligeirar da pressão que o serviço da divida pública, está a causar sobre as
contas públicas por um lado e o serviço de divida privada está a causar sobre
os orçamentos das empresas e famílias, por outro, este efeito agravado com a
pressão exercida pelo sistema bancário sobre estas.
Se por um lado o BCE, tem estado a intervir fortemente no sentido de impedir o
colapso da zona EURO, e em especial dos bancos nacionais, por outro os bancos
nacionais condicionados pelo elevado número de falências e o exponencial
aumento do crédito mal parado, não se encontram em condições objectivas de
fazer reflectir o apoio do BCE, sobre as empresas ou famílias, nomeadamente
aligeirando as fortes restrições à cedência de crédito. O que está a acontecer
é até o contrário, pois na ânsia de reduzirem rapidamente a sua exposição
creditícia os bancos estão a aumentar spreads às empresas e a contribuir de uma
forma decisiva, para a falência de muitas, em especial PMEs que como sabemos
são as empresas que mais volume de emprego geram, no seu todo. Um maior controlo sobre a actividade bancária
será sempre bem vindo.
Face a esta evolução do crédito bancário privado, e à mais recente evolução das
contas públicas, facilmente se depreende, que só há 2 formas de sair deste ciclo
de divida, recessão & mais endividamento. Uma é através da inflação,
(desvalorizando assim o capital em divida, embora com algumas consequência
nefastas a médio prazo ) caminho prontamente repudiado pelas instâncias
financeiras europeias, com a Alemanha no comando, o outro é através do perdão
parcial das dívidas, sejam elas privadas ou públicas.
A não ser que a redução do ritmo de crescimento mundial
conduza a uma redução das exportações alemãs, o que não está a acontecer se
levarmos em conta os dados referentes aos primeiros dois meses de 2012, em que
houve inclusivamente um aumento. A Alemanha, não irá abandonar o pilar da
estabilidade de preços, o que nos remete para a segunda alternativa.
Nesse sentido e na nossa humilde opinião, o governo português,
ao persistir na ideia de que «Portugal irá cumprir» com o serviço de divida,
quando na realidade estamos à mercê da mais vil ganância dos mercados,
comandados por Wall Street & Friends, está a cometer o erro de tentar tapar
o sol com a peneira, como se a realidade que habitualmente é manipulada pelos
media nacionais a favor do governo fosse extensível ao resto do mundo, ou por
outro lado o desconhecimento do evoluir das contas públicas, que evidenciam
uma significativa quebra das receitas
fiscais, não fosse público e consecutivamente referido pelos partidos da
oposição.
Este ERRO CRASSO da governação, com que
os governos democráticos tentam iludir o
povo, sobejamente conhecido dos portugueses e de praticamente todos os povos do
mundo ocidental, assume especial relevância, quando este governo foi eleito por
uma pequena minoria, que com a conivência de uma larga abstenção, se converteu
numa maioria parlamentar, que lhe oferece
condições de governação impares. Quem não se lembra da ambição de
Francisco Sá Carneiro, um governo, uma maioria, um presidente ? Em 38 anos de Democracia, este é o primeiro governo que cumpre esse sonho de Sá Carneiro.
Assumir publicamente que Portugal terá de ter um perdão parcial da sua divida
pública e que idênticos perdões terão de ser aplicados ao sector privado, e
mudar a base da acção governativa nesse sentido é a única forma de aligeirar a
inclinação fortemente descendente em que a economia portuguesa se encontra, e
que culminará com um decrescimento económico que pode atingir os 8% no final de
2012, o que colocará Portugal não só perante a mais grave crise económica desde
o inicio do século XIX, mas também numa
dependência de ajuda humanitária externa, que poderá colocar em risco a nossa
própria existência enquanto país independente. Não nos esqueçamos que boa parte
da nossa soberania, já se encontra no preciso momento em que escrevemos,
parcialmente alienada.
Num mundo em crise profunda e mudanças aceleradas, é
bom que a governação assente mais nas
evidências da realidade, que na gestão de expectativas, quando elas
simplesmente não existem. Uma lição dura e difícil de apreender é certo, mas a
única que nos poderá salvar do mais inevitável desastre, financeiro, económico
& social. Novos problemas exigem novas soluções mas para que estas sejam
possíveis, é necessária uma prévia mudança de mentalidades e comportamentos e
esta só se consegue com lucidez, coragem, empenho e firmeza.
Aos governantes
pede-se que governem.
Chega de ilusões. Já estamos a pagar caro por elas.