A primeira década de Democracia, foi uma festa.
Herdámos os cofres cheios com 865 Toneladas de ouro, cuidadosa e rigorosamente extorquidas dos sacrifício das gerações dos nossos pais e avós, através de orçamentos de estado equilibrados e administrados com o respeito e a parcimónia devida a esse sacrifício, que todos sabiam ser, mais ou menos comum.
Como adolescentes, nados e criados num convento medieval, fomos largados no meio de um parque de diversões com os bolsos cheios de dinheiro e a cabeça cheia de esperança & ilusões.
Ainda antes do final da primeira década, conhecemos a austeridade imposta pelo FMI, e fomos confrontados com a necessidade de refrearmos os nossos instintos mais básicos.
Aprendemos alguma coisa com os sacrifícios de 78/85 ? Pouco ou nada.
Soubemos o que era inflação, e os efeitos desta nos n/ bolsos, mas ainda estávamos todos atordoados com 40 anos de estabilidade governativa e económica, onde pouco ou nada se passava, e mesmo quando se passava algo, nada nos era dito, nem a nossa opinião nos era pedida.
Na segunda década, que irá ficar conhecida para a história como a «era cavaquista», economicamente, evoluímos bastante quer em termos absolutos quer em termos relativos, aproximamos-nos mesmo dos níveis de vida médios dos restantes países da CEE, mas a nossa mentalidade dormia novamente sob os auspícios de mais um «Dom Sebastião». Foi nessa década
que cada um de nós se preocupou mais em ficar com a maior parte possível do queijo, e nos
esquecemos que a força de uma Democracia reside na capacidade de um povo se UNIR em torno de causas e de intervir de forma consequente.
Aderimos em 1986, e a enxurrada de fundos europeus, obrigou-nos a evoluir. Mas será que evoluímos mesmo? Ou limitámo-nos a desbaratar uma boa parte do que nos foi «oferecido» ?
Ou será que o que nos foi «oferecido», não passou de uma ilusão de riqueza, enquanto por outro lado nos retiravam a nossa verdadeira riqueza ?
Finda a segunda década, entrámos na terceira, pós 92, com um objectivo comum a que subjugámos todos os outros, a EXPO98, e lá fomos caminhando alegremente.. quisemos entrar no EURO em 1999, e deixaram-nos entrar, poucas ou nenhumas perguntas nos foram feitas, afinal precisavam que nos mantivéssemos alegremente..adormecidos.
Até que chegou a quarta década, atravessando um período de instabilidade governativa, que já nem mesmo os países da América latina, são frequentes. Começava-se a perceber a INGOVERNABILIDADE a que o país, tinha chegado.
E hoje, 36 anos depois ( exactamente os mesmos que Salazar governou o país sempre com orçamentos equilibrados, e sacrificando o povo a essa imperiosa necessidade de independência financeira do exterior ), somos finalmente confrontados com o inevitável e já há muito esperado.
Há que cortar na DESPESA PUBLICA, mas o esforço necessário para levar essa tarefa por diante, não é compatível com a FALTA DE LEGITIMIDADE, que os principais responsáveis políticos eleitos / escolhidos dentro do sistema possuem. Todos clamam por redução da despesa publica, mas ninguém está disposto a ceder o seu bocadinho… do queijo.
Estamos obviamente condenados a imposições externas. E sendo assim, elas que venham, que sejam duras e determinadas, mas que venham já, porque, por cada dia que passa, todos sabemos que subimos um degrau na escala logaritmica do nosso sofrimento esperado. Nosso e dos nossos filhos.
Por favor Dona Angela Merkel, mantenha-se firme nos seus propósitos, e ajude-nos a desatar este nó antes que apareça outro Salgueiro Maia, desta feita sem farda ou ilusões.
«Há vários tipos de estado, o estado socialista,o estado capitalista e o estado a que isto chegou.", Salgueiro Maia, 25/04/1974, EPC Santarem